Capacidade
amplificada
A terceira idade do transístor - ele acaba de completar 65 anos de idade
- promete ser qualquer coisa, menos monótona.
Logo depois do surgimento do promissor transistor a vácuo, agora acaba de ser inventado um novo tipo
de transístor que permite realizar mudanças no estado da matéria usando
correntes elétricas.
Cientistas do laboratório Riken, no Japão, criaram um componente que usa
a acumulação eletrostática de cargas sobre a superfície de um material para
desencadear uma alteração do seu estado físico.
O material muda completamente, passando de isolante para metálico. E não
se trata apenas de uma transição de estados eletrônicos - o material sofre uma
mudança em sua estrutura cristalina.
Transístor de Mott
O novo componente já era previsto teoricamente e vinha sendo buscado
avidamente pelos cientistas pelo seu potencial de dar maior velocidade e
diminuir o consumo de energia dos circuitos eletrônicos.
Ele é chamado de transístor de Mott porque se baseia em um material
chamado isolador de Mott - em homenagem ao físico britânico Neville Mott -, um
tipo de material que pode passar de condutor elétrico a isolante mediante um
rearranjo de seus elétrons.
Inúmeros pesquisadores tentaram construir esses transistores inovadores
antes, mas nunca ninguém havia conseguido produzir as correntes necessárias
para forçar a transição de fase do isolante de Mott.
Transição de fase
Masaki Nakano e seus colegas resolveram o problema adicionando uma gota
de líquido iônico sobre o isolante de Mott - eles usaram dióxido de vanádio.
Quando uma pequena tensão foi aplicada ao líquido iônico, isto gerou um
enorme campo elétrico na superfície do isolante de Mott, induzindo-o a mudar de
estado.
Melhor do que isso, a transição de fase não aconteceu apenas na
superfície do material, mas em todo o seu volume, literalmente transformando
todo o bloco de dióxido de vanádio de isolante em metálico e vice-versa.
Embora esse fenômeno de mudança de fase não seja totalmente
compreendido, os pesquisadores japoneses descobriram que não se trata apenas de
uma mudança de fase eletrônica.
Usando radiação síncrotron, eles verificaram que o dióxido de vanádio
sofre uma mudança na sua estrutura cristalina, passando de uma rede monoclínica
para uma tetragonal.
Torneira que não pinga
O funcionamento de um transistor pode ser entendido
como uma chave, na qual a tensão aplicada a um dos seus eletrodos controla o
nível de corrente que flui pelos outros dois eletrodos - a aplicação da tensão
naquele primeiro eletrodo liga e desliga a corrente que passa pelos outros
dois.
A eficiência do transístor é medida pela comparação
entre a corrente que ele deixa passar no estado ligado e a corrente que
"vaza" indesejadamente no estado desligado.
Um transístor de mudança de fase pode ser muito
mais eficiente do que os transistores atuais, nos quais ocorre apenas uma
alteração momentânea na resistência elétrica do material semicondutor, na
medida que ele será melhor na fase de condução elétrica por ser um metal, e
mais radical na fase de retenção da corrente, por ser um isolante.
Aplicações
Essa descoberta, e a imediata exploração do efeito
em um transístor, leva o componente eletrônico sexagenário a uma nova fase da
vida, com um horizonte de aplicações ainda mais amplo - além do aumento da
eficiência nas aplicações já conhecidas.
E, se o efeito pode ser usado para mudar a fase de
um material de isolante para metálico, a descoberta abre novas possibilidades
de controlar o estado da matéria de outros materiais.
Bibliografia:
Collective bulk carrier delocalization driven by electrostatic surface charge accumulation
M. Nakano, K. Shibuya, D. Okuyama, T. Hatano, S. Ono, M. Kawasaki, Y. Iwasa, Y. Tokura
Nature
Vol.: 487, 459-462
DOI: 10.1038/nature11296
Collective bulk carrier delocalization driven by electrostatic surface charge accumulation
M. Nakano, K. Shibuya, D. Okuyama, T. Hatano, S. Ono, M. Kawasaki, Y. Iwasa, Y. Tokura
Nature
Vol.: 487, 459-462
DOI: 10.1038/nature11296
Nenhum comentário:
Postar um comentário